Colecção temática Fagáceas
A evolução é e será sempre um enigma por decifrar, pois na vida nada surge espontaneamente ou, até se tal fenómeno viesse a acontecer, a sustentabilidade biológica dessa geração espontânea estaria sujeita a uma complexa interacção infinitesimal de variáveis ambientais. É assim que a própria evolução não é um processo linear, e o mais primitivo nunca é pior ou melhor do que venha a ser mais tarde. Um exemplo vivo deste fenómeno está na família das Fagáceas. A origem deste grupo é, como não podia ser doutra forma, um perfeito enigma. Estaremos perante um grupo de Rosídeas especializadas na polinização pelo vento (anemofilia)?; perfeitamente adaptadas à formação de estratos arbustivos e arbóreos?; com períodos de vida mais longevos? Os registos fósseis não negam estas questões, mas também não facilitam a sua explicação. De facto, parece que a origem deste grupo poderia ser inferior aos 100 milhões de anos, circunstância esta que faz com que as Fagáceas adquirissem o seu estatuto de família diferente com posterioridade às famílias mais comuns das Rosídeas, como as Rosáceas ou as Leguminosas. Contudo prevalece a dúvida da sua rapidez em adquirir hábitos de vida tão radicalmente opostos a estas famílias, com morfologias igualmente distintas e quase em nada semelhantes.
No entanto, e ao mesmo tempo que nos interrogamos em relação a essa origem ainda por compreender, há outros aspectos das Fagáceas que chamam especialmente a atenção. O carácter unissexuado das suas flores; o facto de encontrarmos sempre folhas simples e nunca compostas e, ao mesmo tempo, quase sempre com uma lobulação característica; a variabilidade na persistência das mesmas, podendo encontrar desde indivíduos de folhas caducas até outros perenifólios, passando pelos semi-caducifólios e os que apresentam folhas marcescentes; a densidade das suas folhagens e da sua ramificação; a facilidade em desenvolver morfologias e híbridas, associada a uma enorme plasticidade física em qualquer dos seus órgãos (vegetativos ou reprodutivos). São estas algumas das características que ainda criam um elo mais misterioso à volta desta enigmática família de plantas vasculares.
Esta combinação de formas fez com que esta família, que transformou radicalmente os bosques gimnospérmicos Triássicos, tenha vindo a ser centro da nossa atenção ao longo de toda a existência da espécie humana. Os bosques ou matagais onde estão representantes das Fagáceas caracterizam-se pela sua capacidade por acumular humidade, através dessa densa folhagem e ramagem destes indivíduos. Juntamente com esta circunstância ambiental, o jogo de luzes e sombras que a passagem dos raios solares provoca quando atravessa as densas e tortuosas copas destas árvores e arbustos, criou cenários que desde sempre foram objecto dos nossos temores ancestrais.
No Jardim Botânico da UTAD poderão admirar diversas espécies dos géneros Castanea, Quercus, Fagus e Nothofagus, principais representantes desta família que soube espalhar-se ao longo dos dois hemisférios, em latitudes temperadas e subtropicais. Ao mesmo tempo, os nossos visitantes poderão também admirar os efeitos térmicos e luminosos que estas misteriosas criaturas vieram instaurar aos nossos bosques e matagais. Em fim, quiçá o contacto directo com estes carvalhos, castanheiros ou faias fará com que a nossa visão da vida comece a adquirir contornos mais vagos e universais.
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