O Herbário de Vila Real

A figura do herbário foi oficialmente instituída pelo insigne botânico italiano e professor da Universidade de Bologna, Luca Ghini (1490-1556). A coleção herborizada deste professor e investigador ainda pode ser consultada no Jardim Botânico de Pissa, reconhecido oficialmente como primeiro Jardim Botânico desde a sua fundação em 1544. A partir daqui, os herbários passaram a ser centros de informação germoplásmica de excelência, pois através destas coleções não passava só a ser possível confirmar as identificações feitas por outros, como também era criada uma verdadeira enciclopédia de diversidade florística. O herbário supõe um vademecum de exemplares conservados extremamente útil para o conhecimento da flora, instrumento indispensável para o ensinamento de ciências tão básicas como a medicina ou a farmacognosia.

É preciso ter em consideração que grande parte das substâncias ativas dos medicamentos procedem de plantas, de modo que qualquer erro no reconhecimento dos exemplares poderia ter consequências funestas para os pacientes. Ao longo de séculos os erros médicos ou farmacêuticos comprovados eram sinónimo da pena de morte, mais tarde comutada pelo afastamento da carreira profissional. Por estes motivos, médicos e farmacêuticos precisavam de ter, com eles, coleções herborizadas devidamente identificadas e etiquetadas (com os locais de colheita e a época em que foram herborizados), de modo a ter uma base comparativa fiável e pormenorizada. O desenvolvimento da indústria farmacêutica foi determinante para retirar estas pesadas responsabilidades aos médicos e farmacêuticos. Contudo, o sucesso ou insucesso destas empresas passa, obrigatoriamente, pelo conhecimento preciso das plantas pois, mais uma vez, um erro pode levar a a despesas económicas insuportáveis.

Mas os herbários não são só fundamentais para o desenvolvimento médico e farmacêutico. Outros empreendimentos dependem desse conhecimento florístico preciso, tais como a indústria alimentar, ganadeira, a da construção, mobiliário, pasta de papel ou a de perfumaria, entre outras. Não podemos esquecer que as plantas são bens essenciais e básicos, de modo que em qualquer empreendimento sustentado no recurso vegetal é preciso ter uma informação constantemente atualizada e muito pormenorizada. Aqui os herbários são instrumentos de trabalho básicos, pois permitem dar a conhecer a informação sobre essa diversidade: a sua identificação, a sua variabilidade morfológica, histológica ou molecular, a sua distribuição e ecologia, a sua abundância ou a evolução e dinâmica recentes.

Os herbários são e sempre serão uma enciclopédia da vida que, como todas as bases enciclopédicas, alarga os seus conhecimentos à medida que são atualizadas informações, aumentando assim a procura de análise dos seus conteúdos. Este espírito imprime aos herbários uma dinâmica própria, através da qual é possível intercambiar ou emprestar informação de uma coleção a outra, incluir coleções privadas ou aumentar o seu elenco informativo com novas campanhas de herborização. Por estas razões os herbários são e serão patrimónios da humanidade, pois ajudam a compreender a razão da nossa existência.

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