Colecção temática Mirtáceas

Muitas e muito diversas são as imagens que chegam até nós representando a vida na Terra em tempos remotos. Do Jurássico e Cretácico temos notícia de uma fauna que, na sua generalidade, já não existe como tal. A sensação imediata que vem à nossa cabeça é a do cataclismo, o fracasso ou a incapacidade desses seres vivos de suportar alguma mudança ambiental dramática. Porém, e olhando com atenção, muitos são os sinais biológicos que põem em causa todas essas visões destrutivas e desesperançadas sobre o futuro dos seres vivos. As próprias Mirtáceas podem ser muito úteis para podermos explicar esta enigmática mensagem associada à própria evolução da vida.

As nossas conhecidas murtas, eucaliptos, melaleucas ou árvores-do-chã, limpa-garrafas ou urzes-de-jardim, entre outras muitas plantas que podemos observar na colecção das Mirtáceas do JBUTAD, começam a formar parte da flora vascular do nosso planeta no fim do período Cretácico (por volta dos 100 milhões de anos). Este é um momento ambientalmente empolgante, com um aumento considerável da humidade associada à disgregação continental, estimulando a formação de extensas florestas húmidas. Era tempo de imaginar e diversificar, pois pouco depois aconteceria um fenómeno ambiental imprevisto. As temperaturas médias começariam a descer e uma cadeia de intensas glaciações e interglaciações transformariam aquele cenário numa constante corrida perante uma frente polar que, como as ondas do mar, avançava e recuava num implacável frenesi. Novamente a imagem de destruição e fracasso vem as nossas mentes… mas nada mais longe da realidade. O fracasso é o fim último da evolução, pois doutra forma jamais haveria sucesso, jamais haveria vida. Mas o fracasso não é um fim, antes disso é uma continuação. Olhando para as Mirtáceas vemos como elas são portadoras de um aparente fracasso. As suas flores, com um aparatoso conjunto de estames sob um invólucro totalmente aberto e simétrico não é um bom sinal para especializar o polinizador. Ao mesmo tempo, o facto de serem árvores ou arbustos, com folhas simples, embora geralmente opostas, o que facilita criar densas folhagens. É verdade que esta combinação de caracteres seria o passaporte à extinção, à mais absoluta aniquilação. Mas aqui reside a sabedoria dos ecossistemas: destruição nunca, antes transformação ou aproveitamento. De facto, um dos aspectos mais inquietantes dos ecossistemas é a sua capacidade de manter formas de vida aparentemente primitivas e, não por isso, impedir que possam ser úteis para a fazer com que esse mesmo sistema ecológico funcione. As Mirtáceas estariam condenadas ao desapreço da própria vida, não fosse antes o facto de a vida aproveitar sempre tudo aquilo que faz.

Hoje em dia esta família está espalhada por quase todo o mundo. A sua morfologia é da maior utilidade numa multidão de ecossistemas, com as mais variadas condições ambientais. A sua diversificação resultou em dezenas de géneros e centenas de espécies. Venha a ver a importância do fracasso, pois afinal errar é património da vida…

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